Amén

16/02/2011

O bacana de trabalhar/estudar em casa, no inverno, é poder ficar de pijama. #prontofalei

Eram umas 4h da tarde.

Eu, sentada há horas no sofá com laptop no colo, lendo e buscando referências para a tese.

Toca a campainha. Era a D. María.

Fazia tempo que não falávamos com ela. Desencontros de vizinhos.

Abrimos a porta, ela já estava emocionada.

Tinha vindo se despedir.

Não porque nós vamos embora, e sim porque ela iria estar fora um tempo.

Quimioterapia.

Nos abraçou, falou que foi um prazer ter conhecido pessoas tão queridas.

Não tive nenhuma dúvida do que eu tinha que fazer.

Convidei-a para entrar e perguntei se podia orar por ela.

Deus tem planos que não entendemos direito.

O que sei é que não conhecemos a María só para aprender a fazer paella.

Orei com todo meu coração.

Pedi a Deus que aproveite esse tempo para falar com ela, especialmente, como um Pai amoroso que cuida da sua filha.

E pedi à Maria que abra o coração e esteja sensível, porque Ele vai falar.

Dei minha Biblia de presente. É por ali que ela poderá escutar.

Assim seja.

Convidamos a María para ir à igreja.

Ela foi, toda arrumadinha e emocionada.

Na hora do almoço, fez questão de trazer coisas para comermos juntos.

Vieram almôndegas no molho com grão de bico, peixinhos fritos, pão com tomate.

Até um flan de sobremesa ela tinha preparado.

Tarde gostosa e engraçadíssima.

De repente, Bel tem a genial ideia de pedir à María que nos ensinasse a fazer tortilla.

Pois fazemos hoje mesmo, ela prontamente aceitou.

Não era bem isso que esperávamos…

Bel e eu viajamos amanhã, temos mil coisas para arrumar.

Tentei transferir para a próxima semana. Não rolou.

20h em ponto, campainha.

María aparece com todos os ingredientes: batata, cebola e ovo.

Deixei a educação de lado e continuei arrumando a mala.

Bel fez o papel de aluna, dessa vez.

A tortilla ficou maravilhosa.

E María, contente e orgulhosa.

Bom fazer pessoas felizes.

Mas fomos dormir 1h da manhã para levantar às 3h…

Paella de María

18/11/2010

Eu tento evitar, mas a culinária me persegue como tema para o blog.

Hoje é a vez da famosérrima PAELLA.

Seria uma vergonha ter morado um ano na Espanha e não ter aprendido como se faz.

Fui a uma fonte extremamente confiável para que me ensinasse: María, nossa vizinha.

Ela, fofa, foi didática e me mostrou todos os detalhes.

Como sou legal (e quero manter meus amigos), divido aqui os segredos.

Tudo começa pela compra dos ingredientes: melhor se forem frescos.

Bora para o mercado em busca de enormes camarões, lulas, mariscos.

Foi praticamente um assalto. Muitos euros o quilo.

Mas tive vergonha de dizer para a tia que eu queria uma paella modesta.

Tudo bem. Se é para aprender, que seja direito.

Quando ela perguntou se eu queria também colocar coelho, cogitei o arrependimento.

Com jogo de cintura invejável, disse que preferia uma paella só de pescados. Típica.

Confesso que, meio em choque, não coloquei a mão na massa.

Dei uma de aluna-ouvinte. No máximo, fotógrafa.

Bom demais para a primeira experiência «fresca» com frutos do mar.

É um tal de corta lula pra cá, limpa mexilhão pra lá.

Mil segredos.

O camarão, por exemplo, só leva sal e fica ali descansando.

Os grandes são «enfeite». Compramos 3 por pessoa.

A sépia (lula), tem que ser bem lavada e depois cortada em tecos. Mas não toda. Tem uma parte do corpo meio nojenta onde fica a tinta que vai para a panela inteira, até soltar o líquido. Só depois é picotada. Mas, calma, chegaremos lá.

A quantidade? Uma lula inteira, tamanho M.

Também poderíamos ter usado uns 500 gramas de camarões pequenos.

Fritamos os camarões em bastante azeite. Reservamos.

No mesmo azeite, douramos uma cebola e quatro dentes de alho em pedacinhos.

Acrescentamos um tomate sem pele cortado em tecos pequenos. Bem de qualquer jeito.

E já podemos juntar a lula, mexendo até a parte nojenta soltar todo o líquido bege escuro.

Nesse momento, podemos cortá-la em pedaços também e continuar fritando.

Lenta e pacientemente.

Em paralelo, lidamos com os mexilhões (300 gr). Precisam ser limpos (raspamos com uma faquinha e tiramos os fiapos que vem grudados, diretamente do fundo do mar).

Processo não muito bonito, mas necessário.

Depois, colocamos numa panela tampada (sem água!) e deixamos ferver.

Sim, eles mesmos soltarão água e, quando uma espuma aparecer, podemos apagar o fogo.

É quase um susto que se dá neles, só para que as conchas se abram.

Descartamos a parte de cima das conchas e deixamos as metadinhas separadas.

Truque importante: pegar essa água que os mexilhões soltam, coar, e jogar na panela.

Vai dar um gostinho todo especial para a paella – explica María.

Quando percebemos que o fritadão tá nesse ponto da foto abaixo, acrescentamos mais ou menos um litro de caldo de peixe. (Detalhe: o processo de preparação desse caldo é um tanto quanto medonho – envolve cozinhar cabeças de peixe – e, graças a Deus, María nos poupou da tortura e já o trouxe pronto).

A próxima fase é acrescentar o arroz (daqueles gordinhos, próprios para paella).

Dois punhados por pessoa.

Essas quantidades que comentamos servem quatro pessoas não muito famintas.

Aí é só administrar o ponto do arroz.

Não pode ficar molenga. Não pode secar.

Se precisar, é só ir colocando mais caldo.

Quando estiver já quase pronto, acrescentamos os camarões e os mexilhões.

Deixamos descansar poucos minutinhos (só o tempo de abrir o vinho branco).

E, felizes da vida, saboreamos a típica paella da María.

Menção honrosa para Igor e Isabel, que esconderam a lula dentro das conchas vazias de mexilhão e fingiram comer tudo direitinho.

Eu, amante de frutos do mar, a-do-rei.