Brasileiros residentes em Barcelona organizaram um evento que durou o dia todo, à beira da praia, mas com infra-estrutura legal de palco e barracas com pseudo-comidas típicas: coxinha, quibe (?!) e esfiha (!?) a 3 euros. (Fa)cada.

Rolaram apresentações de samba, capoeira, forró, e misturebas com mpb e flamenco.

A ideia do evento é bacana. Conceitualmente admirável.

Mas, confesso, tive vergonha alheia das periguetes que requebravam em excesso, aumentando o estereótipo que já existe de que «brasileiro = bunda e/ou futebol».

Para reforçar a piada, surge, do além, a Seleção Brasileira.

Parece brincadeira.

Não tinha jogo, não tinha nada.

Vieram treinar em Barcelona.

Até a Globo noticiou a alegria da galera ao receber os jogadores. Olha só o video.

Foi, no mínimo, divertido.

E bastante emocionante ouvir ecoar no Mediterrâneo o Hino Nacional cantado pela saudosista multidão verde e amarela.

Fotos, infelizmente, não tenho.

Fui brincar com a máquina da Bel e apaguei todas, sem querer.

#naosabebrincar #feio #mancada #foimal

Es solo fútbol

02/07/2010

O dia começou tão bem e terminou tão mal…

Levantei cedo e fui encontrar Bel e Jana na praia.

Tomamos um sol gostoso, recarregamos as energias.

Banho, almoço e bora ver o jogo do Brasil, cheias de segurança.

Traje completo: camiseta, havaianas, listrinhas verde-e-amarelas na bochecha.

A frustração não foi apenas ser eliminado. Foi ter passado vergonha em terra estranha por jogar tão mal. Foi ter decepcionado os amigos latinos que estavam conosco na torcida. Foi não ser mais bom em uma das únicas coisas inquestionavelmente incomparáveis que tínhamos: a raça, a alegria e a superioridade no futebol.

Doeu bem.

Mas, no fundo, bem lá dentro, guardadinho, a gente já sabia, né?

Era questão de tempo.

Então, aproveitando que esqueci a chave de casa e não tinha como voltar pra lá e chorar, saímos desfilando a verde e amarela pelas ruas de Barcelona. Reações múltiplas nos seguiram: ironia, tiração de sarro, lamento, empatia, respeito.

Engraçado como a Copa mobiliza o mundo.

Mas é só futebol, né, gente?

Kit-Brasil!

29/06/2010

– Entrega do Brasil para você, Cíntia.

– Oi?

Do Igor não podia ser, porque estão proibidas surpresas que me façam chorar.

Era da B2, agência brasileira que tem um blog de inovação para o qual eu escrevo.

Ganhei um kit-Brasil, com camiseta + camuflagem verde e amarela.

De novo: fácil me fazer feliz!

E zero a zero é lá placar de jogo de Copa?

Claro que não, ora pois.

Fiquei injuriada.

Empatar com Portugal?

Não pode, minha gente. Pode não.

Nessa auto-foto estamos parecendo felizes mas, repare, é uma alegria disfarçada.

Já estávamos ali, verde-e-amarelando pelas ruas.

Tivemos, então, que fazer cara de «vai, Brasil» e bola pra frente.

Tibidabo

20/06/2010

Meu irmão fez hoje 24 anos e eu não estava lá para tirar uma com a cara dele.

Nem para comer a feijoada maravilhosa da minha mãe.

Nem para comemorar os três gols do Brasil contra a Costa do Marfim.

Nem pra dizer ao Bru que eu orei por ele, pedindo a Deus que todos os seus sonhos sejam realizados de acordo com a vontade do Senhor, e que ele continue crescendo em graça e sabedoria. E que tenha paz. E que tenha saúde. E que continue sendo o moleque insuportavelmente responsável e inteligente que eu tanto tanto tanto amo e admiro.

Apesar de tudo isso, Deus foi generoso comigo e o dia foi ótimo.

Depois de uma manhã especial na igreja, Bel e eu fizemos piquenique na Praça do Miró.

Mais tarde, fomos com amigos do master ao Tibidabo, ponto mais alto de Barcelona.

Como este blog também é cultura, digo que o nome vem de um versículo em latim da Bíbia: «…et dixit illi haec tibi omnia dabo si cadens adoraveris me» — «E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares» (Mateus 4:9).

Quem disse essa frase pouco ousada foi o diabo, para Jesus, ao mostrar a ele todos os reinos da Terra. Jesus já mandou um «some daqui e não me irrita, porque você é quem tem que me adorar» (tradução revista e atualizada pela autora que vos fala), e o diabo, muito prudentemente, vazou dali.

Mais tarde, jogo do Brasil com outra galera.

Como dá orgulho de vestir verde-e-amarelo aqui.

Paola e Fer, um casal de amigos colombianos, me perguntaram: «Como é a sensação de ganhar sempre???».

Como boa Cíntia que sou, respondi: «Normal», ironica e propositalmente.

Morreram de rir.

Hihihi.

Venga Brasil!

15/06/2010

Tudo começou de manhã.

O esquema tático já estava planejado.

Muita expectativa, minha gente.

Alonguei tudo direitinho e coloquei na bolsa.

Fui mais cedo para o trabalho, já no clima ô-lê-lê-ô.

Tinha um compromisso importante depois e não podia haver impedimentos.

Dia sem prorrogação.

Driblei o chefe, dei rolinho na secretária, chapelei a colega de trabalho.

Aos 45′, joguei uns trabalhos pendentes pra escanteio e fui pro vestiário.

Juizão não foi louco de dar nenhum minuto de acréscimo.

Com a merecida reverência, vesti a digníssima camisa verde e amarela, ainda na firma.

Haja coração.

Foram 4 anos esperando esse momento, e agora estava ali, na cara do gol.

Bora para o metrô. Brasil-eô.

A torcida toda me esperava num bar brazuca mais lotado que o Anhangabaú.

Claro que não tinha lugar pra sentar.

De repente, vi em frente ao bar uma cadeira velha jogada pra escanteio.

Não tive dúvidas: botei pra dentro e saí pro abraço.

===========<() Fuéeeeeeeeee!

E, finalmente, primeiro gol do Brasil.

Não vi como foi. Tava com torcicolo de tanto olhar para cima lá no telão.

Mas pulei, vibrei, comemorei e botei pra fora aquele grito entalado desde as quartas de final da Copa passada no jogo contra a França (#fiadamae, tomara que perca!).

Comoção geral também no segundo gol.

Quem? Elano?

Já vi que tô velha e desatualizada futebolisticamente.

É.

Para falar a verdade, não foi nenhum jogão.

Faltou brilho.

Robinho nem pedalou.

E ainda tivemos dó do coitadinho do coreano chorão e demos um gol de lambuja.

Mas Copa é Copa.

Brasil é Brasil.

E brasileiro que é brasileiro não desiste nem aqui nem na España.

Pátria amada

11/06/2010

Clima de Copa do Mundo.

Não que algo tenha mudado, muito pelo contrário.

Parece tudo tão normal, tão indiferente às vuvuzelas.

Dá vontade de gritar por aí: «Ei, vocês estão sabendo que hoje começa um evento que mexe com o globo terrestre? Rola botar uma camisa e torcer comigo contra a Argentina?».

Mas meu coração brasileiro, ciente de que as aves que aqui gorgeiam não gorgeiam como lá, reparou que – conscientemente ou não – Barcelona está vestida de verde e amarelo!

Será um sinal?

Fica a homenagem à Pátria Amada.

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias
Coimbra, julho de 1843. Publicado no livro Primeiros Cantos (1846). Poema integrante da série Poesias Americanas.