Começou hoje a festa mais tradicional da cidade: a Festa de Grácia.

Grácia é um bairro parecido com a Vila Madalena, com ruas estreitas e cheia de restaurantes bacanas, bistrôs, ateliês e lojinhas alternativas.

Durante essa semana de agosto, 17 ruas desse bairro são decoradas pelos moradores, e o lugar se enche de atividades culturais e de gente. Muita gente.

Passeamos até 2h da manhã por ali e nos divertimos com grupos musicais de vários estilos: do brega (tiozinhos tocando sanfona) ao bizarro (como um cara tocava violão, bateria, gaita e cantava ao mesmo tempo).

Provamos uma bebida pra lá de exótica: rum com café, canela e limão, tudo isso pegando fogo – literalmente.

Ô cidade que sabe fazer festas, essa Barcelona.

Eu disse que ela se tornaria um personagem.

Mal chegamos da igreja, estava a D. Maria tocando a campainha.

Posso trazer uma coisinha que preparei para vocês experimentarem?

Medo.

Minutos depois, entra a tia com uma travessa misteriosa.

– Ai, Deus. Que seja tudo menos gelatina nutritiva da cabeça da vaca.

Eram aperitivos de mexilhões e lulas.

Um prato de aparência estranha e odor exótico.

Nesse momento, Igor e eu nos olhamos e combinamos psiquicamente ser educados.

Mas a D. María não se satisfez em nos trazer o prato.

Pegou sua taça de vinho branco e sentou ali:

– Vou esperar vocês provarem. Quero ver se vão gostar.

Ela só iria embora depois que encarássemos a bagaça.

Vinho branco à mão, primeira garfada.

AMEI.

Sério. Imagine um prato de frutos do mar feito por uma tia espanhola que cozinha bem.

A cebola tinha um quê de caramelo; os mexilhões, um toque de limão.

Maravilhoso.

Eu me deliciava quando Igor interrompeu meu delírio dizendo:

– Que rico! Muito bom, D. María!

Fiquei feliz. Pensei que ele tinha gostado de verdade, como o bacalhau.

Só umas horas depois, depois de ser levemente obrigada pela tia a anotar a receita tin-tin por tin-tin, é que eu soube que meu marido é um excelente ator. E – definitivamente – detesta mexilhões.

Tarde agradable

14/08/2010

Final de tarde, dia bonito.

– Praia, né?

– Seguro. A la playa.

Lagarteamos boas horas ali na Barceloneta.

Por que mesmo a gente não faz isso mais vezes?

Cólica.

Algo precisa nos fazer lembrar que a vida não é tão fácil.

Desde ontem à noite, tô curtindo uma dor nas costas absurda.

Sem falar no mal estar geral e na cólica em si, que é de matar.

Pensa em como está o humor da garota.

Atenção: se você está tentado(a) a fazer qualquer comentário que possa se incluir na categoria «pobre Igor» ou «coitada da Isabel», poupe saliva virtual.

O pobre Igor e a coitada da Isabel estão ainda na vantagem de conviver com uma pessoa tão maravilhosa quanto eu, que sofre apenas de alguns períodos mensais de extrema instabilidade emocional e física.

Já tomei Cicladol, o elixir da ressureição (li esse termo no «Cien Años de Soledad» se referindo a um caldo de frango, mas quis usar aqui porque achei muito apropriado também ao remédio salvador que eu tomo mensalmente).

Logo tô boa.

Pan pan pan pan

12/08/2010

Recebemos para jantar o Fernando e a Roberta, ex-colegas-de-piso da Bel.

Igor e eu «nos puxamos» (em não-«gauchês»: nos dedicamos) para fazer aqueeeele pão.

Receita: Marlene Alexandroff.

Adaptação espanhola: Igor e Cíntia Alexandroff.

Teve pão recheado de frango, linguiça, presunto e queijo, quatro queijos e maçã com canela.

Como há tempos a modéstia passa longe desta casa, posso dizer: ficaram incríveis.

Tarragona

11/08/2010

Levantamos cedo rumo à rodoviária.

O destino: Tarragona, uma cidade vizinha ao sul da Catalunya.

O objetivo: passar o dia lagarteando na praia e, se der tempo, visitar a parte histórica.

Não deu tempo. Quer dizer, não deu coragem.

Depois de horas e horas estirados na areia e tomando banho de água morna, não queríamos nada diferente do ar condicionado do trem de volta para casa.

Praia linda, limpíssima e de águas quentes.

Privilégio.


Útil otra vez

10/08/2010

Dia completamente focado em trabalho, apesar do sol lindo lá fora.

Sabe quando a coisa engrena? Pois então.

Fiquei sentada em frente ao computador desde manhã até mais ou menos umas 23h.

O site tá ficando bem bacana, apesar de faltarem vários detalhes.

À noite não conseguia dormir, empolgada, pensando no quão legal ele tá ficando.

(Nem lembrava como era a sensação de ir dormir pensando em algo desafiador no trabalho… rs).

A meta é terminar o quanto antes, mas a parte técnica que depende do Igor ficou um tempão empacada porque ele tem mil coisas para entregar (graças a Deus…).

Tô feliz e animada, me sentindo útil outra vez.

Apresento-vos uma personagem que começará a fazer parte desta história: D. María.

Lembra que eu disse que demos um pedaço de bolo de maçã para a vizinha?

A própria.

A tiazinha é uma senhora provavelmente viúva, possivelmente catalã, e certamente única.

(«Possivelmente» catalã porque é muito mais simpática que a média da região, então desconfiamos que pode ter nascido em algum lugar mais legal da Espanha).

Mas o fato é que a figura é engraçada.

Hoje veio devolver o pratinho e pediu para entrar, toda fofa.

Trazia para nós um papel com todos os trens e metrôs de Barcelona e nos indicou passeios de bate-e-volta imperdíveis. Fez a gente anotar tudo: estação por estação; praia por praia.

Falava e riiiiia.

Perguntou se gostávamos de comidas diferentes.

Isabel – a que passa mal só de olhar para frutos do mar «estranhos» – quis ser educada e falou que amamos provar coisas exóticas.

Eu queria rolar de rir no chão quando a tia começou a descrever uma comida deliciosa que tínhamos que conhecer:

«Sabe a cabeça da vaca? Tem uma parte ali que se cozinha, que tem uma gelatina super nutritiva. Comemos junto com… como eu posso explicar…? Sabe a tripa da vaca? Mas não o intestino… É como se fosse a parte que sai leite, mas por dentro. É como uma tripa… Enfim, vocês precisam ver. É estupendo!».

Ah! Tem também o pulpo a gallega. Você compra o polvo fresco, mas não faz no dia, não. Congela. Tem que ficar no congelador por uns 3 dias no mínimo. Depois você cozinha, tempera, e na água do próprio polvo você ferve as batatas para acompanhar. Hum… Rico!

Quando vi a cara de ânsia da Bel, tentei sair pela direita: «Na verdade, gostamos mesmo é de paella. Aliás, eu adoraria aprender a fazer. A senhora sabe como é?».

Claro que eu sei! Posso fazer um dia para vocês verem! Aliás, melhor que paella é fideuá. É a mesma coisa, mas com um macarrão bem fininho… Você pega uma cabeça de merluza e faz um caldo bem bom…

Quando ela falou «cabeça de merluza» eu quase dei uma cambalhota de rir.

E aí parei de prestar atenção.

Sei que no fim das contas, trocamos um pedaço de bolo por um fideuá.

Será qualquer dia desses e, se a tia prometeu, eu acredito.

Com certeza vou amar a comida.

E, mais ainda, ver a cara da Bel e do Igor.

HAHAHAHAHAHAHAHA.

Cosas bien hechas

08/08/2010

É tanto auto-orgulho que não cabe em mim.

Fiz bolo de maçã e ficou, modéstia às favas, per-fei-to.

É a genética, só pode ser.

Tudo que eu faço fica ótimo e a minha experiência é comprovadamente nula.

Sabe quando a casa inteira fica cheirando a canela?

Até a vizinha ganhou um pedaço, sob protestos do Igor, que queria tudo pra ele.

Mas quando eu digo que a genética ajuda, não me refiro só aos dotes culinários da D. Zê.

Do meu pai – o Sr. Gibinha – eu certamente ganhei a habilidade de fazer as coisas bem.

Tudo o que você faz, pai, você faz bem. Já reparou?

Eu já.

É por isso (também) que você é o homem que eu mais admiro nessa vida…

Você sabe, né, pai?

Pra quem não sabe, eu conto: meu pai é aquele que você aprende a respeitar desde cedo.

Pai que cuida, dá, brinca, briga, educa, ama.

Que trabalha, trabalha, trabalha.

E, como se não bastasse, cria, conserta, refaz, inventa, constrói, dá um jeito nisso e naquilo.

Parece feito de uma matéria-prima rara, ultra-resistente e inoxidável.

Nervosinho, às vezes. Como todo Santana, eu desconfio.

Mas exemplo, sempre.

Até no fato de comprar 6 jeans iguais no Extra porque gostou do modelo e estavam em promoção. Eu entendo – é irresistível.

Seu silêncio, pai, me irrita profundamente (também sou Santana, não me culpe) – mas seu olhar me diz tudo que eu preciso saber para continuar te admirando, amando e buscando fazer minhas coisas tão bem como você sempre faz tudo o que faz.

Enfermito

07/08/2010

Igor mal da garganta.

Passou o dia a base de Flogoral, Tylenol e cafuné.

É terrível ver alguém que você ama ficar doente.

Sensação de impotência total.

Dá vontade de transferir a dor para você, só para não ver o outro sofrer.

Para agradar, comprei tudo que ele ama para jantarmos.

(Agora entendo porque minha mãe aparecia com um Danette quando eu estava doente).

Pão, queijos de vários tipos, presunto defumado, tomate recheado com queijo feta e alho.

O legal de fazer comidas legais é que estou com a credibilidade no céu e o I agora prova tudo que eu coloco na frente dele. E gosta! Virou o típico Pacman.

Só essa semana ele comeu (com gosto): cereja, melão, melancia, pera e maçã.

Tá, para você isso não é nada demais.

Mas para quem não gostava nem de morango, é um beeeeelo avanço.

Empleo nuevo

06/08/2010

Meu Deus, fiz polenta.

O negócio tá ficando grave.

– Tem volta, doutor?

– Infelizmente não. Em breve, este blog se converterá em um cover da Palmirinha.

Socorro.

Deixa eu mudar de assunto: estou trabalhando.

Fui contratada pelo Alexandroff 3D Studio para refazer o site da empresa.

Oportunidade fantástica para eu não enlouquecer e também para aplicar os conhecimentos que tenho aprendido na pós: como fazer com que um site se posicione bem no Google, como construir páginas amigáveis e persuasivas, como mensurar resultados e fazer análises de comportamento dos usuários, como tornar-se relevante e fonte de referência em determinado assunto através de conteúdos pertinentes… Enfim, tem trabalho.

Outra parte bacana é que voltei a exercitar meu «eu» redator, jornalista, cronista, sei lá.

Quando estiver pronto o site, coloco o link aqui para saber o que acham.

Gosto muito de escrever. Acho que me faltava uma «causa».

Vamos ver no que dá.

Tarta de cebolla

05/08/2010

Arte do dia: torta de cebola com bacon.

Esse blog tá parecendo o da Palmirinha, eu sei.

Digamos que é um período cheio de motivação gastronômica pelo qual estamos passando.

Logo passa.

(E é melhor que passe, porque estamos virando porpetas).

Mais uma noite de verão no Cine Montjuic.

Dessa vez, o pobre Igor ficou trabalhando.

Mas como alguém nessa casa tem que manter o conteúdo do blog, fui com a Bel.

Hihihi.

Aproveito o dia para homenagear duas queridas: a tia Zenildes e a Alê, aniversariantes do meu coração. Lembrei muito de vocês e já orei para que Deus continue abençoando suas vidas. Sintam-se abraçadas com carinho!

Abuelos

03/08/2010

Retoque na cor cobre do cabelo.

Cada vez mais parecido com o da Vó Tereza, diz meu pai.

(boneca ruiva do Atelier Dea Cordeiro)

Como eu gostaria de ter conhecido todos os meus avós.

Avós são pais desobrigados do politicamente correto.

Gente que mima a gente.

Avós trazem bala Sete-Belo, avós contam histórias.

Gente muito mais criança que a gente.

Avós são quem nos deixa comer só o caldinho do feijão.

Gente que entende a gente.

Avós são gente sábia, gente lembrada (ainda que não conhecida).

Gente que ensina vida pra gente.

A cozinha entrou em funcionamento logo cedo.

Eu, responsável pelo salgado. Isabel, pelo doce. Igor, pela limpeza.

Tudo ao mesmo tempo agora.

É frango cozinhando, é chocolate sendo derretido, é cebola pra cá, caramelo pra lá.

Aromas contraditoriamente irresistíveis pairando pela casa.

No final do dia, quando os amigos chegaram, foram elogios por toda parte.

Curtiram a casa.

Amaram a coxinha.

Adoraram os doces.

Comemos tanto e bebemos tanto que perdi as contas.

(Federico, Paola, Andrea, Sisco, Ana, Bel, Edaimon, Igor e eu)

Valeu muuuuito a pena.

Modéstia às favas, a gente mandou super bem.